segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Novos tempos

E eu achando que 2013 tinha sido o pior ano da minha vida, ledo engano! Anos piores virão, não seria natural a vida amolecer, mas, este ano está de parabéns. Aninho ruim da porr@! A sensação que eu tenho é que 2018 veio pra me destruir, sério mesmo. Quando eu pensei que eu teria um sossego, vieram as eleições.

Em 2015 eu estava viciada no talk show da Chelsea Handler na Netflix, e ela sempre tinha um(a) convidad@ especializad@ diretamente ou indiretamente em política. Vi acontecer lá nos Estados Unidos, a desinformação, o grito e a histeria ganhar as eleições. Acompanhei atenta. Aconteceu aqui igualzinho a lá. O mundo inteiro falou, mas as notícias falsas e a falta de interesse das pessoas em se informarem, venceram. Vi tudo isso e a ascensão da popularidade do Coiso aqui no Brasil, eu sabia o risco que corríamos, mas a danada da “estranha mania de ter fé na vida”, essa maldita que nunca me abandonou, me fez crer que o Brasil era maior que o Monstro. Daí vocês podem imaginar como eu estou me sentindo agora.

Eu me considero uma pessoa bem otimista. Só deixo de acreditar em algo, alguém, quando não tem mais saída mesmo. É com um pesar imenso que digo: essa Cecília morreu ontem. Parte de mim se foi, talvez ressuscite até o final de semana, talvez não, não sei. Hoje meu otimismo já não mora mais em mim. Gostaria muito de acreditar num futuro melhor, nesse futuro que as pessoas estão celebrando, queria mesmo, de coração. No entanto, as notícias de ontem para hoje já me deixaram sem chão, sem perspectiva. As pessoas andam más, perversas, não amam mais ao próximo, desejam a morte de todo@s aquel@s que são diferentes. Gosto disso não. Honestamente, Deus me livre dessa gente de bem!

Não é de minha índole desejar o mal de ninguém, porque acredito que tudo que vai, volta. Sou escorpiana, vingativa e rancorosa, guardo muitas raivas em mim e assim que eu tenho a oportunidade eu alfineto mesmo, sem medo de ser feliz. Já fui cruel algumas vezes na minha vida, nunca intencionalmente, mas o sangue falou mais alto que a razão. Magoei, nem sempre pedi desculpas. Não sou perfeita nem de longe, nem de perto, sou humana. Posso estar errada em me afastar de algumas pessoas que já foram muito queridas, mas neste momento eu não posso estar junto de quem fere a existência das pessoas que eu amo e da minha própria. Não desejo mal algum pro Brasil, de forma alguma. Eu espero estar bem errada e que esta nova gestão não seja o lixo que eu imagino. Mas, se ela favorecer apenas aos ricos, os brancos, ao Edir Macedo, e milhares, e milhares de pobres, nordestinos, negros, índios, LGBTTq+ forem exterminados, espero que isso recaia sobre a consciência de todos os eleitores do Bozo que assistirem calados a barbárie. 


A humanidade sempre foi assim. O ser humano cria coisas maravilhosas e sempre terá um alguém que utilizará daquilo para mal. Foi assim com o avião, é assim com a internet! Para o bem da minha sanidade mental, vou dar um tempo das redes sociais. Vou voltar a ler meus livrinhos, voltar a malhar o meu cérebro. Vou procurar me redescobrir e me redesenhar. Hoje eu estou com a moral baixa, triste e chorosa, mas isso passa, e assim que eu me realinhar voltarei a ser resistência. Meu aniversário está chegando, uma nova idade está vindo e uma nova Cecília surgindo. Aguardem!

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

EU

Eu, Cecília Japiassú Porto, tenho sobrenome tupi-guarani, não tenho provas, mas devo ter sangue indígena correndo nas veias. Sou "branca", hétero, cisgênero, nordestina, nascida no Recife, criada em João Pessoa. Sou formada em comunicação-social, estudei e trabalhei com cinema. Sou apaixonada pela literatura latino-americana, tanto que minha monografia foi sobre o realismo fantástico na teledramaturgia brasileira.

Esta introdução toda é para esclarecer que, mesmo eu sendo “branca”, hétero, cis, educada, sempre serei uma sub-raça aos olhos dos fascistas. Meu sangue não é puro, meu sobrenome denuncia minha talvez-não-ascendência indígena e sou o” pior do Brasil: nordestina. Essa parte do pior é na cabeça deles, dos xenófobos, não na minha que amo e tenho orgulho de ser nordestina. E que fique bem claro aos que acham que são puro sangue: nasceu no Brasil, é latinx. Somos todos frutos do terceiro mundo. Tudo sub-raça.

Aos que vão dizer que por eu ter estudado e trabalhado com cinema, sou vagabunda e mamei nas tetas da Lei Rouanet por isso defendo governo petista. Nunca recebi verba da Lei Rouanet. Nunca defendi governo. Eu defendo o que eu acho certo, independente de partido político. Sempre disse e vou continuar dizendo: não me filio a partido político, nem a religião, porque eu não gosto de ser tolhida, gosto de ter a liberdade de ser e pensar o que eu quiser. Acho sim que tem que haver leis de incentivo à cultura. Educação, cultura, esportes são o futuro, serão as oportunidades que farão os jovens sair da criminalidade, é a perspectiva de algo melhor, que trará um fio de esperança para aqueles que acreditam que o crime é a única saída. Se eu estou certa, eu não sei, mas é o que EU acredito.

Vocês sabiam que o movimento do realismo fantástico se popularizou na América Latina por causa da ditadura militar? Era através dos elementos mágicos, místicos e oníricos, que os autores conseguiam se expressar politicamente e relatar toda violência vivida. Tudo em pequenas nuances, claro! Eu amo a literatura latino-america e por isso acabei lendo muito sobre a ditadura. Leituras pesadíssimas como: A festa do Bode (Ditadura na Répubica Dominicana) de Mário Vargas Llosa; A casa dos Espíritos (Ditadura no Chile) de Isabel Allende, que é um livro lindo e um soco no estômago; acredito que é o mais relevante de todos diante o cenário atual. Leiam! Se não quiserem, assitam ao filme, não tem a riqueza do livro, mas o que importa está lá. No elenco tem Meryl Streep, Jeremy Irons, Glenn Close, elencão da porra. Acho que está na Netflix. Não podemos nos cegar diante do que está acontecendo. Não sejam o Esteban Trueba. 


E por último, gente, empatia. Amor ao próximo. Não é porque é diferente de você que não deva existir. Eu digo não à violência. Não ao fascismo. Não tenho intenção nenhuma de ferir, apenas de tentar trazer um pouco de lucidez e luz para esses dias tristonhos e desesperançosos.