quinta-feira, 11 de outubro de 2018

EU

Eu, Cecília Japiassú Porto, tenho sobrenome tupi-guarani, não tenho provas, mas devo ter sangue indígena correndo nas veias. Sou "branca", hétero, cisgênero, nordestina, nascida no Recife, criada em João Pessoa. Sou formada em comunicação-social, estudei e trabalhei com cinema. Sou apaixonada pela literatura latino-americana, tanto que minha monografia foi sobre o realismo fantástico na teledramaturgia brasileira.

Esta introdução toda é para esclarecer que, mesmo eu sendo “branca”, hétero, cis, educada, sempre serei uma sub-raça aos olhos dos fascistas. Meu sangue não é puro, meu sobrenome denuncia minha talvez-não-ascendência indígena e sou o” pior do Brasil: nordestina. Essa parte do pior é na cabeça deles, dos xenófobos, não na minha que amo e tenho orgulho de ser nordestina. E que fique bem claro aos que acham que são puro sangue: nasceu no Brasil, é latinx. Somos todos frutos do terceiro mundo. Tudo sub-raça.

Aos que vão dizer que por eu ter estudado e trabalhado com cinema, sou vagabunda e mamei nas tetas da Lei Rouanet por isso defendo governo petista. Nunca recebi verba da Lei Rouanet. Nunca defendi governo. Eu defendo o que eu acho certo, independente de partido político. Sempre disse e vou continuar dizendo: não me filio a partido político, nem a religião, porque eu não gosto de ser tolhida, gosto de ter a liberdade de ser e pensar o que eu quiser. Acho sim que tem que haver leis de incentivo à cultura. Educação, cultura, esportes são o futuro, serão as oportunidades que farão os jovens sair da criminalidade, é a perspectiva de algo melhor, que trará um fio de esperança para aqueles que acreditam que o crime é a única saída. Se eu estou certa, eu não sei, mas é o que EU acredito.

Vocês sabiam que o movimento do realismo fantástico se popularizou na América Latina por causa da ditadura militar? Era através dos elementos mágicos, místicos e oníricos, que os autores conseguiam se expressar politicamente e relatar toda violência vivida. Tudo em pequenas nuances, claro! Eu amo a literatura latino-america e por isso acabei lendo muito sobre a ditadura. Leituras pesadíssimas como: A festa do Bode (Ditadura na Répubica Dominicana) de Mário Vargas Llosa; A casa dos Espíritos (Ditadura no Chile) de Isabel Allende, que é um livro lindo e um soco no estômago; acredito que é o mais relevante de todos diante o cenário atual. Leiam! Se não quiserem, assitam ao filme, não tem a riqueza do livro, mas o que importa está lá. No elenco tem Meryl Streep, Jeremy Irons, Glenn Close, elencão da porra. Acho que está na Netflix. Não podemos nos cegar diante do que está acontecendo. Não sejam o Esteban Trueba. 


E por último, gente, empatia. Amor ao próximo. Não é porque é diferente de você que não deva existir. Eu digo não à violência. Não ao fascismo. Não tenho intenção nenhuma de ferir, apenas de tentar trazer um pouco de lucidez e luz para esses dias tristonhos e desesperançosos.

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